31 de março de 2009

SINAIS DOS TEMPOS

Da base Americana das lajes na Ilha Terceira, chegavam as primeiras latas e garrafas, que serviam para levar a sopa e a água para as terras e outros serviços em casa.
Já no final dos anos 50, vinha da Ilha Terceira o Tio José Baixinho, um micaelense que ali viva, com sacos cheios de latas usadas que os americanos deitavam no lixo, de vários tamanhos, para vender. O preço, era normalmente o milho que a lata levava. Mesmo assim não era nada fácil fazer negócio, pois para muitos, o milho era quase tão raro como o dinheiro, e bem mais preciso que as próprias latas.
Daí o Manuel Canela Fina, quando bebia uns copos a mais, cantar:

Em nome do pai e do filho
O Canela não tem milho
E do Espírito Santo
Porque não podia durar tanto.

Do lugar do Monte ou Calhau, cujos habitantes viviam quase exclusivamente do vinho, da aguardente e do mar, vinha o Tio Manuel da Aguardente, mais a filha Luísa com o seu barril de aguardente no carro puxado pela vaquinha, procurar fazer o seu negócio, pelas outras freguesias. O tio Manuel, trazia numa mão a aguilhada e na outra a corda da vac. Entre as freguesias aproveitava para descansar as pernas, sentando-se sobre o varal esquerdo do carro. Mas, sempre que via um luz de carro, toca a saltar para o chão, podia ser o Chefe de Conservação de Estradas, era multa certa e lá se ia o eventual lucro da viagem. A filha Luísa, vinha sentada ao lado do barril de aguardente, toda embrulhada num xaile preto, e por vezes, não se sabe bem se apenas do cheiro da mesma, já vinha meia tralhosa. Na ceve ou num fogueiro do carro, traziam pendurado o lampião a petróleo que os iluminava durante a madrugada e sinalizava também a sua posição na via pública. No Outono, traziam também castanhas para trocar por cinza das lareiras para adubar as terras, além da aguardente, que na maioria dos casos eram trocadas por milho, pois dinheiro havia pouco. A cinza, e o estrume dos animais, eram o adubo usado nas culturas. Não havia adubos. Enquanto uns comiam as castanhas que eram mais ou menos raras para os lados do Sul, o Tio Manuel da aguardente lá fazia assim o seu negócio, levando em troca algum dinheirinho e ainda o precioso milho, o tal indispensável pão dos pobres.

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