31 de março de 2009

A MINHA ESCOLA PRIMÁRIA

A minha velha escola já está há muitos anos abandonada.
Aos sete anos entrei para a escola primária – no ano de 1947 – só se podia matricular quem tivesse sete anos feitos a sete de Outubro de cada ano, data em que abria a escola. Eu fazia os sete anos a 13 de Dezembro, pelo que, quando entrei, tinha quase oito anos.
Foi minha primeira professora a Senhora Dona Guida Fialho, ela também no seu primeiro ano de ensino com os seus dezoito anos. Senhora muito bonita, meiga e de muito bom feitio. Nos anos seguintes, a Senhora professora Dona Rosa do Coração de Maria Alves, senhora madura, exigente disciplinadora e muitíssimo briosa na sua profissão.
A minha escola era mista, com cerca de sessenta alunos de ambos os sexos. Era pequenina, mas ali se construíram grandes alicerces humanos, tanto na formação, como também na educação.
No meu tempo, na escola não se aprendia só a ler e escrever, mas também, moral, religião e bons costumes.
Aos Sábados havia canto coral, educação cívica, jogos e brincadeiras. Aprendia-se a brincar e a cantar, nomeadamente o Hino Nacional, o Hino da Escola, etc.
Parece-me estar a ouvir a minha saudosa professora D. Rosa Alves a ensinar e cantar connosco o hino da Escola que era assim:

A nossa escola é um hino redentor
Onde a nossa alma vem buscar alento
E a meiga voz do nosso professor
Acompanhada de Juvenal amor
É cá p´ra nós carícia e sentimento

Abençoada Escola
Que a todos acarinha
Que anima e que consola
E a Deus nos encaminha

É fogo que acrisola
Nossa alma pequenina
Viva a risonha Escola
Da aldeia da Prainha.

Que saudades daqueles santos tempos, em que, nós os rapazes, jogava-mos ao vintém, com dinheiro de outro tempo (monarquia), ao peão, à pata, à barra, etc. enquanto as raparigas faziam roda e cantavam: O Jardim da Celeste , etc.
Tenho também as melhores recordações dos livros que utilizei e que ainda hoje conservo, nos quais aprendi muitas coisas que me ajudaram a gerir a minha vida.
Aos onze anos, completei o ensino primário, com distinção.
Da minha escola, tenho as melhores recordações. Das professoras amigas, dos colegas e amigos que durante muitos anos perdi de vista e que agora, os anos que nos caíram em cima nos trazem constantemente à memória, dos jogos e brincadeiras, e especialmente de certas cenas que hoje me parecem um sonho. Também recordo, aquele pedacinho de lápis de ardósia que, quando nova e inteira, com os seus cerca de 12 centímetros, havia custado $10 (dez centavos), mas que, era preciso aproveitar enquanto escrevesse. Por fim, quando já não se conseguia pegar bem com os dedos, metia-se num pequeno e fino canudo de cana de bambu ou até de hortênsia.
Não podendo continuar os estudos, como era meu desejo, o que era quase impossível naqueles tempos para uma família de fracos recursos financeiros numa freguesia rural da Ilha do Pico, lá continuei a trabalhar nos campos junto com meu pai e irmãos. Nesta altura já possuíamos terrenos por todos os cantos da freguesia. Terras de pão, de vinhas, de pastagem, de lenha para queimar e monda para os estrumes dos campos, etc., não faltavam.

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