31 de março de 2009

COISAS DO ARCO DA VELHA

A carne de vaca, era de categoria única. Um quilo de carne com osso, custava 5$00 (cinco escudos) mas, o António Cabral – o marchante - não arriscava a abater uma vaca, pelas festas do Senhor Espírito Santo, altura em que muita gente sempre comprava o seu bocadinho de carne de vaca, sem primeiro correr de porta em porta, as casas daqueles que lhe pareciam potenciais clientes, fazendo o seu rol.
Mesmo assim, uma vaca de cento e tal, duzentos quilos, dava e por vezes sobrava.
Já na altura, meu pai era proprietário de três pequenas quintas de laranjeiras. Uma que comprou ao Tirano, que era a melhor, onde as laranjas era muito doces, no sitio do Marrocão e outras duas que ele mesmo plantou. A segunda, também no Marrocão, onde haviam as muito saborosas laranjas brancas, e a do curral das galinhas, que ficava perto de casa, junto ao tanque do vizinho Fontes. Eu e os meus irmãos, éramos constantemente assediados pelos amigos: - “Vamos à vossa quinta”. Lá íamos. Era gosto vê-los a comer laranjas.Graças aos meus pais, nunca conheci certas dificuldades que via noutras casas. Trabalho nunca faltou, é certo, mas também uma certa abundância na mesa, na adega e até nas terras onde geralmente havia quase sempre fruta da época.
Desde muito novos, os filhos deste casal entravam num ambiente de trabalho, no amanho das terras – pior ainda para os meus irmãos mais velhos – e eu não fugi à regra, principiando desde muito novo (6 anos) a levar o comer aos irmãos mais velhos e ao pai, às terras. Tenho imensas saudades daqueles tempos em que, apesar de certas faltas, havia alegria, as pessoas normalmente eram sinceras, havia palavra de honra, as pessoas respeitavam-se, as crianças tratavam os mais velhos por Tio, ou senhor e, ao passarem por eles cumprimentavam e tiravam-lhes o seu chapéu: Bom dia, Boa Tarde, Boa Noite, mais que não fosse. Hoje... está mau de mais para o meu gosto, e como diz o povo, a procissão ainda vai no adro.

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