31 de março de 2009

ARTÍFICES DA FREGUESIA

A TENDA DO FERREIRO

A tenda do Cambóio, era também um lugar onde gostávamos de ir especialmente em dias de Inverno. Chegávamo-nos para perto da forja e ou bigorna, e sabia tão bem aquele calorzinho. Às vezes para compensar aquele conforto, puxávamos o pau do fole, enquanto o ferreiro batia com grande malho o ferro quente e vermelho na assafra, procurando dar forma à próxima ferramenta.
Quando o Sr. João Cambóio estava bem disposto, lá lhe pedíamos com jeitinho para nos fazer uma faquinha deferro que se encavada num pedaço de pau e que dava sempre muito jeito, servindo de navalha.
A pedreira de pedra mole (própria para fazer fornos e chaminés), era um exclusivo nosso na ilha do Pico e até se vendia pedra desta também para a Ilha do Faial. Era transportada nos barcos de boca aberta, e na lancha das Lajes do Pico “Hermínia” que saindo em carreira normal da Vila das Lajes para a Horta e vice-versa, uma vez por semana, e escalava o porto da vizinha freguesia de São Mateus.
Nesta especialidade, ganhou-se algum dinheirinho, relativamente a outras actividades, por exemplo: um litro de vinho vendia-se normalmente por 2$00 um litro de leite 1$00, um pão 1$10, uma carteira com 24 cigarros triunfo 1$10, enquanto se vendia a pedra para um forno e uma chaminé por 260$00 (duzentos e sessenta escudos)
Era ainda, um serviço de aproveitamento dos tempos perdidos com a chuva ou mau tempo, pois era um serviço que se podia fazer com essas situações, para mal dos meus pecados e dos meus irmãos mais velhos, que ao contrário dos outros rapazes que jogavam à bola, ao pião, à pata, às cartas, ao sete e meio, ao macaco na taberna do Tio António Medeiros, etc., “era na pedreira o nosso lazer”.
Havia trabalho para todos os dias e para todo o ano, à excepção dos Domingos e dias Santos, e, quando escasseava um pouco, lá iam os meus irmãos mais velhos Mário e o Celestino, trabalhar uns tempos na abertura e alargamento de estradas que se executavam naquele tempo na ilha, sempre era mais aquele dinheirinho que entrava no cofre geral e único, que sempre existiu lá em casa.

A TENDA DO SAPATEIRO

A tenda de sapateiro que conheci em São Caetano, era do simpático velhinho, “mestre Manuel Gravito”.
Era na sua sala de fora que tinha montada a tenda e que recebia os seus clientes.
Na mesma sala, funcionava também uma barbearia, pertencente ao genro Manuel Nunes da Silva.

OS DIAS DE ÓCIO

Os Domingos e dias Santos, eram os dias em que se descansava, depois de tratar dos animais, vacas, cabras, etc., salvo na época das vindimas que até nesses dias se vindimava, pois havia sempre o receio que pudesse chover e estragar as uvas.
Os mais velhos, juntava-se no lugar da empena da cooperativa, em cima do alto, conversando, fazendo e fumando uns cigarros. Sentavam-se numa bancada de pedra que ali existia, e outros no balcão do Tio José Leal, conforme os ventos sopravam. Uns conversavam, outros escutavam cortando pauzinhos com a sua afiada navalha, enquanto outros picavam (cortavam) o tabaco para fazer o seu cigarro com o tal tabaco da horta. Haviam também os que só tinham vontade de fumar e, para não dar muito nas vistas, pediam uma coisa a um, outra a outro, até completar o cigarro.
Era comentado com certa graça o caso dum indivíduo bem conhecido lá no meio que, picava o seu tabaco quando o tinha, e pedia ao amigo do lado o papel para o embrulhar, e, logo de seguida, voltava: “dá-me mais um papel que eu piquei tabaco demais”. Sempre aproveitava mais aquele papelinho. Um livro de papel da marca “Touro” tinha 100 folhas e custava $80 (oitenta centavos). Os rapazes jogavam ao peão, à pata, à barra, etc. e ao sete e meio a cigarros, etc.

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